Ela usa tons de honestidade e sátira, nos desafiando a descobrir a diferença entre as duas coisas
79
Escondidos ali no meio das paisagens oníricas de Lana Del Rey sobre Hollywood e os Hamptons estão lembretes – e celebrações – do quanto esses lugares podem ser vazios. Perspicaz e vibrante, Norman F*****g Rockwell! (2019) é o tratado definitivo sobre as regras de autenticidade de uma artista que fez carreira as quebrando. Del Rey usa tons de honestidade e sátira, nos desafiando a descobrir a diferença entre as duas coisas.
A faixa que encerra o álbum, “hope is a dangerous thing for a woman like me to have – but I have it”, é embalada por uma narrativa confessional – em primeira pessoa, reflexiva e com os vocais sobre acordes de piano simples –, mas é também extravagante e cinematográfica, costurando referências a [escritora] Sylvia Plath com anedotas sobre a própria vida, nos fazendo questionar, mais uma vez, o que é real. Quando Lana repete a frase “a woman like me” [“uma mulher como eu”], parece uma provocação: ela passou a última década misturando personagens – marginal e ídolo pop, debutante e bruxa, pin-up e poeta, pecadora e santa – em um esforço para torná-las controversas. Agora, ela sugere uma ideia ainda mais ousada: a única coisa mais perigosa do que uma mulher complicada é uma mulher que se recusa a desistir.
“Ela é tão misteriosa. Às vezes acho que entendo o que ela está dizendo… mas aí você quase tem a sensação de que não a aguenta.”