Dylan liga-se à corrente e transforma toda uma cultura.
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“I need a dump truck, mama, to unload my head” (Preciso de um camião basculante, mamã, para descarregar a minha cabeça), uiva Bob Dylan no meio do álbum de 1965 que teve cariz de epifania. Aclamado como poeta laureado da juventude mundial e voz de uma contracultura emergente, Dylan tinha a mente a fervilhar. Quando regressou de uma alucinante digressão britânica, em maio de 1965, estava exausto, em parte por ter lançado cinco álbuns em apenas três anos. Será que já não tinha coisas para dizer, ou não tinha vontade de as dizer?
“É a transformação em estrela de rock. Aquele momento exato em que fazes algo diferente e irritas toda a gente.”
Nestas nove faixas, Dylan aborda quase tudo, da barbárie do mundo em “Just Like Tom Thumb’s Blues” à superficialidade da alta sociedade em “Ballad of a Thin Man”, ou os infortúnios do amor em “It Takes a Lot to Laugh, It Takes a Train to Cry”. Com a Guerra do Vietname e a agitação social como pano de fundo, as letras de Dylan refletem imagens de uma mente hiperativa a interpretar o teatro da experiência humana numa canção. Quem ouvia as suas músicas encontrava um refúgio, numa era em que a linguagem e paisagem do rock mudavam em tempo real, em parte por causa de Highway 61 Revisited.