Um tratado reggae sobre a esperança de que tudo corra bem e o medo de que tal não aconteça.
46
Nos anos que antecederam a gravação do nono álbum de Bob Marley, no início de 1977, a Jamaica sofreu um tremendo aumento da violência política, com gangues e grupos paramilitares afiliados aos dois principais partidos do país, o Partido Trabalhista da Jamaica e o Partido Nacional Popular, a matarem-se uns aos outros em proporções alarmantes. Pouco tempo antes das eleições de dezembro de 1976, Marley tentou aliviar o clima com o Smile Jamaica Concert, mas foi baleado na sua própria casa dois dias antes do espetáculo. Mesmo assim, subiu ao palco.
O que ouvimos em Exodus é a tensão entre a esperança de que tudo vai correr bem e a preocupação crescente de que tal possa não acontecer. Marley gravou o álbum durante um exílio autoimposto em Londres, uma distância que obrigou a interpretar com cautela o seu otimismo em relação à Jamaica. Apesar das suas posições políticas nunca terem sido de maior interesse público, as canções mais animadoras do álbum viraram-se para dentro, para temáticas íntimas, românticas e espirituais: “Three Little Birds”, a apaixonada “Waiting in Vain” ou a lendária “One Love”.
“Se considerarmos o impacto que teve nas suas carreiras e na música em geral, Exodus é o registo mais inovador de Bob e da banda… Foi uma criação sonora absolutamente revolucionária.”