Com a garra e elegância do gospel, a rainha do hip-hop soul expõe a sua alma numa obra-prima.

My Life
Mary J. Blige
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Com o seu primeiro álbum, What’s the 411?, Mary J. Blige afirmou-se como nova rainha do hip-hop soul e combinou o R&B de cariz intimista com a sensibilidade juvenil do hip-hop. Dois anos depois editou My Life, o álbum que definiu a sua carreira. Neste registo, a artista então com 23 anos ousou expor-se ainda mais, inspirando-se na sua depressão, na luta contra as drogas e álcool, nas experiências com a violência doméstica e desgostos amorosos e na fortaleza espiritual que a ajudou a superar os momentos difíceis. Tudo isso enquanto tentava processar a sua ascensão vertiginosa, das habitações sociais de Yonkers à fama mundial.

Chucky Thompson, herdeiro da equipa de produção de Hitmen (Bad Boy Records), temperou as batidas com samples de funk e de êxitos que enchiam as ruas, enquanto Blige adicionou a garra e a elegância do gospel. Esta fusão estética alcançou o seu expoente máximo na sublime “My Life”, tema em que Blige canta com melancolia e esperança sobre um sample de “Everybody Loves the Sunshine”, de Roy Ayers. Porém, a declaração de missão do álbum surge no final. “All I really want is to be happy” (Tudo o que desejo é ser feliz), canta Blige ladeada por uma linha de baixo retirada de “You’re So Good to Me”, de Curtis Mayfield. “I don’t wanna have to worry about nothin’ no more.” (Não me quero preocupar com nada nunca mais.)
“Estava a atravessar um período terrível e queria curar-me. O lançamento do álbum foi o princípio de um movimento.”
Mary J. Blige