A fantástica trilha sonora que transforma trauma em erotismo
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Não dá para contar a história de um artista atormentado cuja personalidade difícil distorce a sua genialidade musical sem que ele seja de fato um gênio. Nesse sentido, a trilha sonora de Purple Rain foi gerada sob uma dificuldade imensa; a impossibilidade de que o seu sucesso pudesse ter sido posto em dúvida é o maior legado do projeto.
“Ele ganhou um Oscar por ‘Purple Rain’. Não dá para ser mais político do que isso, porque ele fez tudo como quis.”
Com boa parte das músicas no Top 10 dos singles mais vendidos, a trilha sonora do filme é o que realmente transformou Prince Rogers Nelson, que já era um cantor reconhecido, em um dos maiores artistas pop de todos os tempos. O filme, baseado na vida de Prince, foi um dos grandes sucessos do cinema em 1984 e também é a prova da versatilidade e do virtuosismo sem fronteiras do cantor. São nove músicas primorosas que combinam pop, soul, dance, rock, R&B, funk (e muito mais), todas elas com um irresistível poder de atração.
O brilhantismo de Purple Rain está em como ele transforma estados de espírito aparentemente contraditórios – luxúria, devoção, intimidade, alienação – em uma amálgama indissociável. Prince faz o trauma parecer erótico (“When Doves Cry”) e a salvação soar imprudente (“Let’s Go Crazy”). As aventuras sexuais são espirituais, desorientadoras e quase psicodélicas (“Darling Nikki”, “Computer Blue”), enquanto as jornadas espirituais são baseadas na mecânica de um solo de guitarra (“Purple Rain”). O álbum quebrou recordes e fundiu cabeças. Tipper Gore, na época casada com o então senador Al Gore, se chocou com a letra de “Darling Nikki”, que fazia referências a masturbação, e provocou uma caça às bruxas no Congresso dos EUA, onde a moralidade na música pop passou a ser pauta. Prince era comparado a Jimi Hendrix pela maneira com que combinava o negro e o branco, o sagrado e o profano na música. O fato é que nunca existiu ninguém como Prince – nem antes nem depois dele.