Ativismo político, misticismo e uma sonoridade incrivelmente funky
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O posicionamento político mais ousado da carreira de Wonder até então – atacando racismo estrutural, vício em drogas, corruptos carismáticos e cristãos superficiais –, Innervisions (1973) também conseguiu ser incrivelmente funky. Wonder tocou e produziu praticamente todas as faixas, alcançando seu auge musical, embora o tom fosse mais acusatório do que nunca.
“Com a forma que ele conseguia provocar suas emoções e mexer com você, você só tinha que se soltar e tornar-se parte da música.”
“Living For the City” é uma opereta soul de sete minutos sobre o custo imperdoável da vida urbana para a classe trabalhadora negra no momento pós-Black Power. A faixa que fecha o álbum, “He’s Misstra Know-It-All”, identifica, com delicadeza, os tipos predatórios que caçam a mesma população marginalizada, incluindo – o que muitos deduziram – o então presidente do país (e prestes a renunciar), Richard Nixon. Mas há esperança e salvação em “Higher Ground”, que reafirma a crença de Wonder em reencarnação, tendo como base suas marcas registradas: o wah wah do clavinete e o grave do Moog. Ao mesmo tempo uma despedida do otimismo hippie do fim dos anos 60 e uma rota para inúmeros futuros espirituais, Innervisions consolidou Wonder como uma das mentes mais inspiradas e singulares da música popular norte-americana da década de 70.