O salto do U2 para o sucesso mundial explorou as liberdades que vêm com as restrições
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The Joshua Tree (1987) representou um novo caminho para o U2: a influência gospel, a nudez emocional, a introdução do eufemismo em uma sonoridade que se definia justamente pela sua franqueza. No passado, eles deixavam o processo de composição rolar solto e espontâneo. Já aqui, eles passaram a explorar as liberdades que vêm com as restrições.
Se você se debruçar sobre o álbum, vai conseguir separar o som em camadas: os resquícios da guitarra, os pedacinhos da percussão (“One Tree Hill”). Mas se você se afastar, tudo vai soar minimalista e direto. As letras apontam para o amor romântico (“With or Without You”, “I Still Haven’t Found What I’m Looking For”), mas também pela busca por Deus e por sentido – um reflexo das dualidades que eles encontraram tanto no gospel quanto no romantismo de Van Morrison e Patti Smith. O pano de fundo – uma espécie de sonoridade aquarelada, cortesia de Brian Eno e Daniel Lanois – captura a mudança constante. Mas o primeiro plano – os ritmos no compasso de marcha, os vocais fervorosos – é firme e inabalável. Eles fazem rock com as ferramentas de sua época, mas também chegam a algo perpétuo.