Uma imersão sonhadora que revela as ambições dos ícones do gótico
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Quatro anos depois que as melodias fidedignas de The Head on the Door marcaram um rompimento definitivo com a intensidade claustrofóbica dos ícones da música gótica no início dos anos 80, o oitavo álbum do The Cure afiou estes instintos pop e aumentou a visão da banda, alcançando proporções grandiosas.
“Quando você chega ao Disintegration, fica ainda mais estranho e sombrio. Eu só conseguia pensar nisso.”
Disintegration (1989) é um mergulho em um clima pitoresco: nostálgico e profundamente melancólico, anunciando a onda do dream pop e do shoegaze britânico (e se inspirando nela). Clássicos do rock alternativo, como “Pictures of You”, “Lovesong” e “Fascination Street”, são tão instantâneos e indeléveis quanto qualquer outro material do catálogo da banda, mas o The Cure moderou suas emoções de forma que até mesmo a tonalidade maior de uma faixa como “Plainsong” é marcada por um tom mais rico e profundo.
Há aqui um eco da desolação que é marca registrada da banda mas, agora, a espiral que leva ao desespero é estranhamente bem-vinda – como se Robert Smith tivesse descoberto que, nas noites mais frias, enrolar-se na própria solidão é a única maneira de se manter aquecido. E, nesse processo, ele conduziu o gótico – e seus fãs – até o mainstream.