A mistura improvável da sonoridade industrial com o pop que virou um fenômeno
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Mesmo em uma época em que bandas como Nirvana podiam ficar famosas, The Downward Spiral (1994) pareceu extremo. Trent Reznor certa vez chamou o segundo álbum do Nine Inch Nails de uma “celebração da autodestruição na forma de um álbum conceitual que, de alguma forma, conseguiu virar um sucesso mundial multiplatinado”.
Inspirado em Iggy Pop, Lou Reed e na Trilogia de Berlim de David Bowie, The Downward Spiral levou o pop industrial da estreia do grupo, Pretty Hate Machine (1989), a direções inesperadas, fazendo experimentos com músicas inflamadas (“Piggy”), disco e soul (“Closer”) e baladas de uma fragilidade tão enervante que ouvi-las é como uma espécie de voyeurismo (“Hurt”). Até as faixas que parecem dar continuidade às primeiras músicas da banda – como o hardcore de “March of the Pigs” – são drasticamente mais agressivas, tornando os momentos calmos do álbum ainda mais cansados.
A sonoridade de The Downward Spiral também é polarizada, misturando digital com analógico, colagens de samples com performances naturalistas. Se o álbum tem um momento que o define é o clímax de “Closer”: um synthfunk mecânico que abre caminho para um piano distorcido e solitário. Depois de The Downward Spiral, os artistas não precisaram mais escolher entre ser uma banda de rock ou um produtor de música eletrônica – Reznor conectou as duas coisas.